quarta-feira, 28 de julho de 2010

Crónicas da "Fá" #2


Só ao começar a subir as escadas daquele prédio antigo na zona do “Príncipe Real” se dera conta do capítulo que tinha fechado na sua vida. Outro estava a iniciar-se. Não sabia nada sobre ele mas a expectativa fazia-a parecer uma adolescente.

Era a primeira vez que partilhava uma apartamento com alguém para além do Marco. Toda a vida tinha sido a “certinha” e, obviamente, saiu de casa dos Pais para a do marido. A virgindade? Perdera-a pouco tempo antes com o homem com quem se ia casar. Tudo certinho, politicamente correcto, exactamente como “os outros” achavam que as coisas na sua vida deviam acontecer. Estava na altura de romper com isso. Não tinha filhos, os Pais tinham falecido com menos de um ano de diferença, não tinha ninguém a quem se justificar a não ser a si própria. A sensação de vazio era suplantada pela de liberdade.

Encontrou Amélia com o jantar quase pronto. Teve tempo para arrumar a pouca bagagem que transportava e uma passagem rápida pelo duche. Na falta de um roupão enfiou uma t-shirt, uns boxers, e foi-se-lhe juntar. Encontrou-a na sala a pôr a mesa de uma forma cuidada.

- Ena! Temos festa?

- Temos. Desculpa o “cliché” mas hoje é o primeiro dia do resto da tua vida e tens de começar com estilo.

- É melhor mudar de roupa…

- Não podias estar melhor!

O jantar decorreu num misto de excitação e intimidade. Bebeu mais do que estava habituada e foi já com uma sensação de leveza que a conversa evoluiu para os seus planos futuros.

Na verdade não tinha grandes planos. O principal já acontecera. O resto viria naturalmente. Ainda não se tinha habituado à ideia de que estava por sua conta mas estava a fazê-lo rapidamente e, de cada vez que pensava no assunto, ele parecia mais interessante.

- A sério que não tens ninguém?

- Julgavas que tinha saído para ir ter com alguém? Errado.

- De há algum tempo a esta parte vejo-te mais cuidada… Diferente… Pensei que andasse alguma “ave de arribação” a fazer-te “o ninho”.

- Acho que é por começar a olhar para mim de outra forma, nada mais.

Será que não havia? Na verdade nem ela sabia.

- Isso agora não interessa nada. Temos que te dar um bocadinho de cor. Amanhã vamos à praia.

- Na verdade nem tenho fato de banho. Trouxe apenas “meia dúzia” de coisas e na pressa esqueci-me. Para além do mais, precisava de fazer a depilação…

- Aí está um belo programa para o serão!

Achava aquilo demasiada intimidade mas o sorriso dela não admitia uma nega. Pouco tempo depois deu por si a dizer:

- Acabei de sair de casa e já estou nua e de perna aberta…

Uma gargalhada meio nervosa meio ébria acabou por derrubar barreiras.

5 comentários:

Unknown disse...

A degustar cada vez mais esta crónica. Cá vou espreitando :)

Beijinho

O Segredo disse...

crónica 5*****

Vontade de disse...

Ah... parece estar a ficar interessante.

DoisaboresEle disse...

E eu que adoro uma boa história... à espera do que vem a seguir!
Beijosss

Bianca disse...

Depilar as amigas... até levo jeito ;-)
Beijo