quinta-feira, 22 de julho de 2010

Crónicas da "Fá" #1


Passaram anos desde a última vez que sentira aquela paz.

O calor da noite contrastava com o frio do copo de gin tónico que suava na sua mão.

A noite trazia-lhe os ruídos do Bairro Alto até à água furtada onde se encontrava, a contemplar Lisboa. Continuava linda. Já quase não se lembrava e esse reviver só agudizava o estado de excitação em que se encontrava.

De repente parecia voltar a reviver os tempos em que fazia parte daquele ruído, parecia que o tempo não tinha passado, sentia-se viva. Tinha tentado dormir mas era impossível. Tudo parecia impossível. Apenas um olhar casual para o interior do quarto onde Amélia dormia lhe dizia que não estava a sonhar.

Dormia como uma criança, despida como a noite, de preconceitos, de culpa, como só dorme alguém que está em paz.

Amélia era uma colega de trabalho relativamente recente, mas com quem tinha desenvolvido uma relação de amizade. Conheceu-a no sítio onde toda a gente na empresa ia fumar. Era uma “miúda” desprendida, dez anos mais nova. A conversa sobre o “tempo” rapidamente evoluiu para uma intimidade crescente. Foi a única pessoa da empresa a quem conseguiu dizer que estava farta da sua vida, do casamento de faz de conta e que “um dia…” Recebeu como resposta: “Quando esse dia chegar liga-me que eu não me importava nada de ter alguém com quem dividir as “contas”. A sério, se o quiseres fazer não será por não teres para onde ir”.

Aquilo andou a martelar-lhe na cabeça e na véspera, sozinha na cama às quatro da manhã tomou a decisão. Fez de conta que estava a dormir quando ele chegou. A conversa ficaria para o dia seguinte. De manhã, ao chegar foi confirmar a “disponibilidade” . Recebeu como resposta um abraço e um sorriso que lhe deram força para o que tinha a fazer nesse dia.

À hora do almoço foi a casa buscar o essencial. Queria despir-se o mais possível da última dúzia de anos da sua vida. Resolveu o que tinha a resolver na mesa de um café ao fim da tarde. Disse o que tinha a dizer, largou as chaves de casa em cima da mesa e voltou costas.

Ainda lhe parecia impossível o que se tinha passado na sua vida desde então.

5 comentários:

Salomé Mello disse...

E por momentos revi em fotografia o rosto da minha vida

beijo

Unknown disse...

Já tinha lido mas cá continuo a imaginar os mil fins para esta história :)

Beijinho

O Segredo disse...

gostava k desses uma saltada ao meu blogue espero k gostes

http://seggredo.blogspot.com/

Vontade de disse...

Hum... misterioso.

Bianca disse...

Há decisões fulcrais!
Beijo meu Rei.
Tua