quarta-feira, 2 de abril de 2008

Pela boca morre o peixe


- Hoje contei-lhes do teu blog.



- A quem?



- Às minhas colegas da Pós-Graduação...



- ...



- Não me estás a ligar nenhuma. quem é que vem aqui ter?



- Ok... estava noutra, desculpa.



- Eu conheco-as...



- A Luisa e a Carla sim. a Ana não.



- Vem mais alguém?



- Não. Hoje vais parecer um pastor.



- Eu vim beber um copo contigo. Quanto ao resto...



- Já sei que as "adoras"...



- Não gosto nem desgosto. São um bocado sonsas, só isso. Devem vir ainda mais emproadas.



- Não lhes disse que o Blog é teu.



- Ainda bem.




Continuámos a beber a "poncha" de maracujá que de poncha não tinha nada mas refrescava. A noite precisava disso. Estava quente e a malta na "24 de Julho" não parava de chegar, embora fosse cedo.




Não tenho muita pachorra para grandes confusões. Nunca tive. Sítios onde as pessoas têem que gritar para o vizinho do lado as ouvir sempre me fizeram "urticária". Felizmente o sitio onde iamos tem uma esplanada cá fora. Ficaria calmamente a beber um copo enquanto quem quisesse ia abanar o rabo. Embora quando me apetece também o faça, não gosto de me sentir "obrigado". quem vai, vai, quem está, está.




Sónia é minha amiga e "cumplice" há mais de vinte anos. Conhece perfeitamente a minha opinião a esse respeito e a muitos outros. A ideia era termos uma noite descontraida e acabá-la juntos. Ou não... com as colegas que eu conheço era pouco provável. Com a outra logo se via. Ela também não faz cerimónia se algo lhe interessar.




Senti alguma curiosidade pelo facto de ela lhes ter desvendado o meu blog, o da altura, que andava na "berra". Era fundamentalmente uma compilação de factos de boa memória onde ela também entrava. De certeza que esse pormenor não tinha ela revelado.




Embora não tenha grande quimica com elas, a amizade com Sónia sempre foi uma ponte para alguma confiança pelo que falávamos à vontade. Quando as duas chegaram, a conversa fluiu e, obviamente, foi lá parar. Pelos vistos foi um sucesso. Não paravam de falar no assunto. A coisa complicou quando a Carla, numa tentativa de me provocar me disse:




- Sabes do que estamos a falar?




- Tenho uma ideia...




- Aquele ainda é pior que tu. Dasssse. Devias tentar escrever umas merdas. Não me digas que não tens cenas para contar...




A gargalhada incontida de Sónia e o meu ar de sacana fizeram-na começar a perceber, ainda que devagar, que tinha metido a patinha toda dentro da poça. Corou e ficou a olhar para nós com um sorriso estupido e sacana ao mesmo tempo. Foi salva pela chegada da terceira que eu ainda não conhecia. Ana era muito interessante e fazia questão de dar a entender que sabia disso, o que a fazia perder parte do interesse mas também podia ser desafiante. Feitas as apresentações fui buscar uma rodada. Quando cheguei à mesa vi a sacanice que lhe estavam a fazer: Tinham puxado o mesmo assunto, que pelos vistos a entusiasmou, sem lhe dizerem quem era o autor. Esperei um pouco antes de me chegar à mesa. Sónia sorria-me pelo canto do olho.




- ... Aquela merda é uma tesão... faço ideia, a maior parte deve ser treta mas deve ter um fundo de verdade. É capaz de ser um bluff, mas que eu gostava de conhecer o cromo, lá isso gostava...




Vou pousando as bebidas calmamente, saboreando a carinha de antecipação das outras.




- Sabe do que é que estamos a falar?




Gostei do ar de provocação superioridade ao mesmo tempo...




- Mais ou menos. Tem a ver com blogs, certo?




- Tem a ver com um blog que descobrimos hoje que é uma coisa...




- Uma coisa como?




- O tipo que o escreve é cá um doido... Tá bem, tá...




Sónia olhava para mim com o ar de "acho que hoje ainda papamos esta". As outras não sabiam onde se haviam de enfiar e eu, ainda por cima, estava a gostar de ouví-la. Até porque a sobranceria estava latente e quanto mais subisse maior era o tombo.




- Porque é que acha que é um bluff?




- Porque há ali coisas que só se vêem nos filmes... quem gosta...




- Você não...




- Não ligo.




- Disse que gostava de o conhecer.




- Não digo que não, mas, mais para confirmar o que acho que por outra coisa.




- Muito prazer...