sábado, 27 de fevereiro de 2010

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Aconteceu comigo, ninguém me contou...


Quando aqui escrevi sobre o episódio que envolveu Mário Crespo, na verdade ele é que escreveu eu fui apenas um dos que fizeram algo para lhe dar a visibilidade que lhe quiseram tirar, não me passavam pela cabeça os acontecimentos que se lhe seguiram.


Não disse mais nada sobre o assunto por não querer engrossar o ruido a propósito.


Hoje aconteceu-me algo que não quiz deixar de trazer aqui pelo significado que tem em termos do que se vai passando no espirito das pessoas.


De manhã entrei numa bomba de gasolina para, tal como mais uma enorme quantidade de gente, comprar um exemplar do "Sol" (Já era a 3ª que nas outras estava esgotado). Ao não encontrar o dito jornal em exposição dirigi-me à pessoa atrás do balcão e perguntei se não estaria noutro sitio.


O homem de meia idade fez-me um sorriso que não identifiquei e mandou uma funcionária buscar lá dentro o referido jornal. Quando tentei perceber o que se passava respondeu-me que nunca se sabe se, à última da hora não haveria uma "recolha" pelo que estava a proteger os exemplares que lhe calharam.


É impressionante o efeito que a situação está a ter nas pessoas...


Tenho saudades do tempo em que vinha aqui e falava apenas de sexo e brejeirisses...

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Eu até tenho andado caladinho...

Há coisas que me lixam com um "F" dum tamanho que fico a pensar se vivemos na Venezuela ou qualquer merda no estilo.


Publico aqui uma crónica de um Senhor do nosso jornalismo, uma vez que no jornal para onde escreve uma crónica semanal não tiveram a coragem ou a isenção de o fazer.


Ele, como qualquer pessoa de bem, demitiu-se.


O Fim da Linha
Mário Crespo
Terça-feira dia 26 de Janeiro. Dia de Orçamento. O Primeiro-ministro José Sócrates, o Ministro de Estado Pedro Silva Pereira, o Ministro de Assuntos Parlamentares, Jorge Lacão e um executivo de televisão encontraram-se à hora do almoço no restaurante de um hotel em Lisboa.

Fui o epicentro da parte mais colérica de uma conversa claramente ouvida nas mesas em redor.


Sem fazerem recato, fui publicamente referenciado como sendo mentalmente débil (“um louco”) a necessitar de (“ir para o manicómio”). Fui descrito como “um profissional impreparado”. Que injustiça. Eu, que dei aulas na Independente. A defunta alma mater de tanto saber em Portugal.


Definiram-me como “um problema” que teria que ter “solução”. Houve, no restaurante, quem ficasse incomodado com a conversa e me tivesse feito chegar um registo. É fidedigno. Confirmei-o.


Uma das minhas fontes para o aval da legitimidade do episódio comentou (por escrito): “(…) o PM tem qualidades e defeitos, entre os quais se inclui uma certa dificuldade para conviver com o jornalismo livre (…)”. É banal um jornalista cair no desagrado do poder. Há um grau de adversariedade que é essencial para fazer funcionar o sistema de colheita, retrato e análise da informação que circula num Estado. Sem essa dialéctica só há monólogos. Sem esse confronto só há Yes-Men cabeceando em redor de líderes do momento dizendo yes-coisas, seja qual for o absurdo que sejam chamados a validar. Sem contraditório os líderes ficam sem saber quem são, no meio das realidades construídas pelos bajuladores pagos. Isto é mau para qualquer sociedade.


Em sociedades saudáveis os contraditórios são tidos em conta. Executivos saudáveis procuram-nos e distanciam-se dos executores acríticos venerandos e obrigados. Nas comunidades insalubres e nas lideranças decadentes os contraditórios são considerados ofensas, ultrajes e produtos de demência. Os críticos passam a ser “um problema” que exige “solução”.


Portugal, com José Sócrates, Pedro Silva Pereira, Jorge Lacão e com o executivo de TV que os ouviu sem contraditar, tornou-se numa sociedade insalubre.


Em 2010 o Primeiro-ministro já não tem tantos “problemas” nos media como tinha em 2009. O “problema” Manuela Moura Guedes desapareceu. O problema José Eduardo Moniz foi “solucionado”. O Jornal de Sexta da TVI passou a ser um jornal à sexta-feira e deixou de ser “um problema”. Foi-se o “problema” que era o Director do Público. Agora, que o “problema” Marcelo Rebelo de Sousa começou a ser resolvido na RTP, o Primeiro Ministro de Portugal, o Ministro de Estado e o Ministro dos Assuntos Parlamentares que tem a tutela da comunicação social abordam com um experiente executivo de TV, em dia de Orçamento, mais “um problema que tem que ser solucionado”.


Eu.


Que pervertido sentido de Estado. Que perigosa palhaçada.

Nota: Artigo originalmente redigido para ser publicacado hoje (1/2/2010) na imprensa.